terça-feira, 29 de setembro de 2009

A Globo mata-mata os pontos corridos

Em 1995, na final do Campeonato Brasileiro, ocorreu uma das maiores injustiças de que o futebol já teve notícia. Na ocasião, o bom e aguerrido time do Santos perdeu para o time do Botafogo em virtude, sobretudo, de duas falhas capitais da arbitragem: validou um gol irregular do Botafogo, e anulou, erroneamente, um gol legal do Santos.
Assisti ao jogo na casa de um amigo santista, jovem como eu, e, creio, poucas vezes o vi tão triste. Naquele momento, pensei: "Não quero passar por isso. Injusto esse tal de mata-mata!".
Pois bem, recorro a essa lembrança perdida para comentar uma nota que surgiu, ao que tudo indica segunda-feira, na seção Painel, do caderno de esportes da Folha de São Paulo. De acordo com a nota, a Globo enviou à CBF e aos clubes um projeto, segundo o qual a forma de disputa por mata-mata voltaria à tona.
Em primeiro lugar, tendo em vista o tal projeto, seria uma falha não lamentar a desproporcional força da Globo, em comparação aos clubes, e mesmo com a CBF. Há pouco tempo atrás, por exemplo, a emissora já havia se oposto à adequação do calendário brasileiro ao europeu. Parecia que, finalmente, o assunto seria decentemente discutido, mas bastou a toda poderosa se comunicar e... silêncio. O dinheiro sempre fala mais alto. No caso do modelo de campeonato, a toada é a mesma. Ao que tudo indica, a audiência vem caindo.
Ainda que os motivos de uma possível mudança sejam obtusos, creio que a questão mereça debate e reflexão. Os ditos pontos-corridos seriam o modelo mais justo de campeonato pelo simples fato de premiar a equipe mais regular, mais planejada; sem contar o quesito arbitragem: nos pontos-corridos também ocorrem erros, mas estes seriam, teoricamente, "diluídos" no decorrer do certame. Tudo muito bom, tudo muito legal, porém...
Apesar de ter aplaudido quando os campeonatos começaram a ser disputados no atual modelo, no decorrer das temporadas, percebi um certo desnível, que, para falar a verdade, desconsidera a variedade do nosso futebol: o Brasileirão virou quintal de meia dúzia de times, dos quais apenas três disputam, para valer, o campeonato. Vide o tricampeonato tricolor.
Os entusiastas dos pontos-corridos rebatem com dois argumentos. O primeiro (voltar ao mata-mata é um retrocesso, na Europa não é assim, e cousas, lousas e maripousas), creio, sofre de um certo complexo de vira-latas. O futebol brasileiro é legal por sua complexidade, por suas cores, e o modelo atual não privilegia isso. O segundo argumento é ainda mais fácil de derrubar que o primeiro: os times, sem a obrigação de se planejarem, voltariam a ficar nas mãos da Globo. Oras, não me venham com xurumelas. Quando os times saíram das mãos da Globo? Quando tiveram dinheiro? Quando se planejaram? Me desculpem, mas pensar que os clubes vão se planejar muito mais apenas porque o modelo de disputa é outro não passa de sonho. Os dirigentes, via de regra, olham para si, e nos pontos-corridos assim continuaram; azar do torcedor. Os clubes brasileiros não ficaram nem mais, nem menos submissos com os pontos corridos.
Enfim, se hoje pudesse escolher entre os dois tipos de disputa, meu coração, com um pouco de receio (admito), penderia para o primeiro. O futebol brasileiro não pode se resumir a três times. E se alguém ainda levantar a questão da arbitragem, para retomar o ponto de início deste texto, digo que, não importa qual modelo, devemos lutar (isso sim, sem dúvidas) pelo uso de recursos eletrônicos. Giovanni e Cia., em 1995, teriam comemorado o título.

Um comentário:

  1. Sou santista e revoltei-me em 95.

    Mas rezo para a volta do mata-mata. Hoje, time que está na intermediária das posições na metade do campeonato já começa a jogar só pra cumprir tabela.

    E, convenhamos, lutar só por uma vaga na Libertadores é uma coisa muito medíocre.

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