quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

TEPT: Um estudo de caso da nação corinthiana

O perfil da torcida mudou muito depois da Série B. O corinthiano era, antes de tudo, um exaltado, e eu acredito que o rebaixamento foi um golpe na auto-estima da Fiel, que levantou a cabeça e seguiu em frente com o time, mas com aquela cicatriz do golpe ali, às vezes doendo.

E mudou. A torcida passou a aceitar mais as coisas, a conformar-se, embotada na bolha do próprio time, e amparada na premissa do amor incondicional. O problema é que houve uma confusão nesse amor incondicional, e no que é de fato o Corinthians.

O amor é incondicional, sim, mas é amor ao Corinthians. Não deve ser ao Mano Menezes, ao Andrés ou ao fulano de tal. Ocorre que essas figuras fizeram parte da tragédia toda e, com isso, foram incorporadas à instituição, como se eles próprios fossem o Corinthians e criticá-los fosse criticar o Corinthians, ou pisar no clube. Com os jogadores até é diferente, pois sempre se teve a certeza de que eles passam e nós permanecemos. Mas os cabeças daquele momento difícil foram incorporados pela massa. Um porque supostamente cumpriu a missão impossível de devolver o time ao seu devido lugar, como se fosse algo ímpar ou mesmo difícil. O marketing ajudou a construir essa imagem. E o outro porque assumiu o Titanic e teve sua imagem atrelada à queda do facínora Dualib. Tornou-se, na visão de muitos, um herói. Poucos ainda lembram que ele estava lá com o velho o tempo todo.

Aí, a torcida, de reflexiva, crítica e pró-ativa, tornou-se facilmente manipulada e permissiva. Traumatizada.

Hoje até jogadores como os que vemos aí, que em outros tempos apanhariam na rua para ver se ficava claro que aqui não é um timinho de futebol, mas O CORINTHIANS, são poupados de críticas e vaias, porque muitos acreditam que devemos confiar naqueles que os incorporados e santificados Andrés e Mano trouxeram para o clube.

Se eles jogam mal e continuam escalados, oras, não se deve criticar, pois devemos confiança incondicional ao Mano; afinal ele nos trouxe de volta do abismo da Série B, logo, ele sabe o que faz, mesmo quando se vê, em campo, que ele não sabe.

Se as evidências apontam para favorecimentos e apadrinhamentos de atletas de empresários, diretores, etc e tal, oras, seria muito injusto de nossa parte acusa-los, afinal o senhor Andrés Sanchez, capitão do Timão, assumiu o clube em seu pior momento e seria indigno de nossa parte questionar o caráter dele, mesmo que tenhamos todas as razões para tal, razões estas que ele nos deu, diga-se.

Se o Corinthians antes era aguerrido, pra frente e pra cima, e agora está acovardado, aceitando derrotas sem luta e sem garra, como nunca em 100 anos de existência, a torcida aceita e até age como se tivesse sido sempre assim, porque também ela está retraída, moralmente ferida e acometida do transtorno de estresse pós-traumático - TEPT.

Soma-se a isto o fato de um marketeiro ter captado o espírito da coisa e utilizado em
benefício de sua diretoria, e o fato de, como em todo lugar, aqui também encontrarmos torcedores de caráter duvidoso, do crime, sem valores e que se vendem por migalhas, utilizando o Corinthians e a torcida como fachada para outras atividades, mais escusas, e nos defrontamos com esta realidade, que em muito pouco se parece com time e torcida, pelo menos não com o Corinthians e a Fiel de outrora.

Relatei toda esta anamnese e diagnostiquei o caso não para traçar um prognóstico negativo ou realizar previsões, porque do futuro só Deus sabe, mas pela simples razão de que o nosso futuro a gente constroi e constroi a partir do presente, que precisamos entender para transformar. E por que transtorno a gente trata.

Larissa Beppler é corinthiana, inteligente e psicóloga. O texto acima foi publicado por ela em uma comunidade do Orkut como via para gerar discussões e reflexões acerca do lamentável estado de apatia em que o Corinthians se encontra atualmente. Como ela, não quero que meu time vire apenas folclore.

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