terça-feira, 6 de outubro de 2009

O sentimento e a planilha

Há quem erre por ofício, porém, dói mesmo o caso de quem erra por vontade de acertar. Este é o caso, meus amigos, do Internacional, que, ao insistir com Tite, praticamente enterrou suas chances no Brasileiro.
E tudo porque o Inter ajoelhou e rezou de acordo com o credo bom-mocista das atuais práticas futebolísticas, que pregam a manutenção do técnico, custe o que custar. Porém, como, apesar de paulista, devo ter em meu DNA alguma poeira mineira, sempre desconfiei desse dogma. Aliás, desconfiar de dogmas, leitor, é atitude deveras salutar quase 90% das vezes.
Futebol, já disse aqui em algum lugar, é o mais humano dos esportes. Regulado cada vez mais, admito, pelo dinheiro e pela tecnocracia, mas mesmo assim ainda não conseguiram arrancar-lhe a alma. Como humano que é, o futebol está submetido a infindas variáveis; variáveis estas que só os mais sábios mestres, dirigentes e técnicos são capazes de desvendar. Os incautos dominados pela opinião pública podem tecer, aí, suas loas ao dirigente tecnocrata, mas este cortaria um dobrado frente a um dirigente das antigas, aquele que decodificava o clima no vestiário como uma onça fareja o medo da presa, como um Don Juan fareja a intenção da cabrocha. Como exemplos, não precisamos ir muito longe, nós os temos aqui mesmo, neste Campeonato Brasileiro.
Primeiro o caso que rezou segundo a cartilha, o Avaí, que andava cambaleando, sem vencer, apanhando mais que cão de bêbado. Manteve o técnico, no que agiu bem: os dirigentes sentiram que não era momento de precipitação, era preciso acostumar os jogadores à Série A, dar-lhes gana de vencer. Lembro que muitos dos jogadores do Avaí são os chamados losers do futebol, por não terem dado certo em times grandes. É desse tipo de time que eu gosto, pois, se bem motivado, os ditos losers correm como verdadeiros alazões no turfe da bola; cães de raça na caçada de suas vidas, eles comem a carne, roem o osso e chupam o tutano.
O outro caso é o cantado, louvado, elogiado São Paulo. Exemplo de "administração", "segurança", "planejamento" e "organização", por três anos, pelo menos, o time reina praticamente sozinho quando o assunto é a racionalidade aplicada ao bate-bola. E não é que este mesmo São Paulo surpreende a todos quando esquece a razão e adere às leis da Futebolística, ciência milenar e quase esquecida nos labirintos da hermenêutica do esporte bretão? E, mais uma surpresa, não é que o time reagiu? Elementar, caro leitor; os dirigentes são-paulinos descobriram algo que os jornalistas e boa parte do público já sabiam há algum tempo: o Muricy é dose! Bom técnico, mas com um temperamento de cavalo xucro. Visivelmente, sua relação com o elenco estava gasta. Para completar, a diretoria tricolor contratou um poste, o Ricardo Gomes, que, tão somente, trata seus jogadores com firmeza, mas sem perder a ternura. E o elenco é bom, oras, não é preciso muito mais do que isso.
Para entender de futebol, uma planilha do Excel não basta.

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