sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Seco, no canto

Essa semana, a tal da janela de transferências, enfim, fechou. Entre mortos e feridos, como diz minha mãe, todos se salvaram. Restam dois exemplos, para reflexão: o do Corinthians, que vendeu peças-chave, importantes, e o de Palmeiras e São Paulo, que procuraram mantê-las. Neste espaço, já publiquei minha opinião quanto à estratégia do Corinthians – considerando-a, no mínimo, precipitada. Por isso, digo: Palmeiras e São Paulo fizeram bem, mas é estranho que ninguém se pergunte: "De onde vem o dinheiro?". O São Paulo recusou proposta de 16 milhões de euros, o Palmeiras aumenta salários e contrata jogadores... Ou o Coringa é mesmo muito pobre, ou essa galera tá blefando...

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O Corinthians, com time reserva e cheio de remendos, nunca deixou de estar perto do G4. Os reforços tendem a estrear, e, se tudo der certo, o time melhora. Neste sentido, considero estranhas e desrespeitosas as declarações de Edmílson e André Dias (respectivamente, de Palmeiras e São Paulo), que, em entrevistas, tiraram o Corinthians do páreo.

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O jogador Eduardo Silva, do Arsenal, brasileiro naturalizado croata, vem sendo execrado pela mídia europeia, em virtude de um pênalty que ele teria cavado, num jogo contra o Celtic. Parece que o dito lance inflamou os ânimos de todas as pessoas limpinhas e bem comportadas, que cagam ética pelos ouvidos. No dia do jogo, quando o lance foi reprisado, no telão, a torcida do Arsenal, estarrecida, gritou "Ohhhh!". Engraçado, pois a mesma Inglaterra apoiou os ataques ao Iraque; na mesma Inglaterra um brasileiro foi assassinado no metrô, com tiros pelas costas, e nada aconteceu aos assassinos; a mesma Inglaterra, com uma sanha insana, investiga e publica detalhes da vida íntima de sua família real; a mesma Inglaterra enviou toneladas de lixo ao Brasil, para aqui serem despejadas, a mesma Inglaterra, enfim, jamais corou por ter exercido um papel histórico imperialista, emperrando o desenvolvimento de inúmeros países.
Tem gente que só usa a ética onde quer.

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Eu sou a única pessoa do Brasil que acha que as "brincadeirinhas" do Globo Esporte em relação aos argentinos são escrotas e preconceituosas?

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Antes que alguém venha me dizer que enganar o adversário é feio (e bobo), digo: há algo que se chama, no futebol e em outros jogos, jogo mental. Jogo mental é saber jogar o jogo para além da frieza das regras; é saber ler o que elas não implicam. Até no xadrez, esporte limpinho, existe isso; um dos maiores campeões de todos os tempos, Gary Kasparov, é, também, um dos maiores no jogo mental. Quem o enfrentou diz que, por exemplo, ele não perde a oportunidade de fazer comentários e falar coisas que possam desconcentrar o adversário. No futebol, o jogo mental é rir para, e do, adversário; é reclamar para, e do, juiz; é pegar aquele jogador que está fraquejando, e saber quebrá-lo de vez; é saber, sim, "interpretar" um pênalty. Todos estes detalhes evitam que o jogo torne-se burocrático, aumentando a possibilidade de ocorrências num nível épico. Quem não gosta disso, vá jogar xadrez... Mas não contra o Kasparov.

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Argentina X Brasil tem tudo para ser um jogão. Rivalidade, necessidade, técnicos e times em situações opostas são apenas o creme de um show que já conhecemos: as duas maiores escolas de futebol em campo.

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Mais uma vez, antes que alguém venha me apontar o dedo: bater, cuspir, rasgar e demais ações correlatas não entram no quesito "jogo mental". Tais ações são violência pura e simples, e casos para tribunal, portanto.

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"Xadrez é tortura mental." Gary Kasparov

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